segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Imperfeita liberdade - Por Paulo Cristiano, do CACP

Mishirassê, hoshô, mioshiê, makoto.




Já ouviu falar de semelhantes terminologias? Cremos que não. São vocábulos japoneses que, para nós, não possuem nenhum significado especial, mas para certo grupo religioso sim, são o divisor de águas entre o caos e a harmonia, a morte e a salvação, a bênção e a maldição. Estamos falando do movimento religioso japonês conhecido como Perfect Liberty, que traduzido é “Perfeita Liberdade”. Suas iniciais formam a sigla da Instituição: PL.

Panorama histórico da PL

A instituição religiosa Perfect Liberty foi fundada em 29 de setembro de 1946, na cidade de Tossu, no Japão. Nasceu com base na religião Mitakekyo-Tokumitsu Daikyokai, fundada em 1912 sob os ensinamentos de Tokumitsu Kanada, ex-monge budista da seita Shingon. Kanada nasceu em 1863, na cidade de Yao, Osaka, e disse ter recebido a iluminação de “uma verdade” para fundar sua seita.

Tokuharu Miki, o primeiro kyosso (“fundador”) da PL, largou o zen-budismo para se tornar discípulo de Kanada. Com a morte de Kanada, Miki, que já era seu sucessor, em obediência ao testamento deixado pelo mestre, plantou uma árvore no local de seu falecimento, zelando-a como “morada de Deus” e orando perante ela todos os dias. Após cinco anos, diz ter recebido uma iluminação, por meio da qual recebeu mais três preceitos que, somados aos outros dezoito que lhe foram transmitidos pelo próprio Kanada, perfizeram os 21 preceitos sagrados da PL.

Em 1925, estabelece-se o templo Hito-No-Michi (“Caminho do homem”). Após uma perseguição religiosa no Japão, a instituição foi fechada e seus dirigentes, presos, sob a acusação de lesa majestade. Em 9 de outubro de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, foram todos libertados. No ano seguinte, mais precisamente no dia 29 de setembro, Toruchira Miki, filho de Tokuharu Miki e segundo patriarca da seita, substituiu o nome do grupo para Instituição Religiosa Perfect Liberty. A escolha do nome, sem dúvida, foi um reflexo desse acontecimento.

A Sede Eterna da PL, ou Terra Sagrada, como costumam denominar, encontra-se, atualmente, em Tondabayashi, próximo a Osaka, no Japão. Segundo afirmam, possuem milhões de adeptos em todo o mundo. Os verdadeiros seguidores precisam participar de uma caravana religiosa pelo menos uma vez na vida até a Sede Eterna, em comemoração da memória do primeiro patriarca.

No Brasil, a PL teve início em 16 de fevereiro de 1958, com a chegada, em 24 de março de 1957, do assistente de mestre Ryozo Azuma, e se espalhou, principalmente, entre as colônias japonesas. Somente aqui, a PL possui mais de trezentos mil adeptos distribuídos em duzentas sedes, sendo que, desses, 95% são de procedência não japonesa.

O perfil peelista

À primeira vista, a PL não apresenta nada demais, dando a impressão de que seus ensinamentos são apenas mais uma filosofia de vida, pois só falam de coisas boas e positivas. Tanto é que, em alguns lugares, foi considerada uma instituição de utilidade pública. Esse é um aspecto positivo que merece o nosso louvor.

Contudo, a verdadeira questão se encontra em outro patamar. Quando nos aprofundamos num exame mais detalhado, percebemos que a PL reivindica ser muito mais que uma simples religião ou filosofia. Como as demais seitas japonesas, acredita que cada religião teve “uma verdade”, ou “iluminação”, para a sua época. Mas agora, na época atual, Deus enviou a PL para salvar a humanidade. É uma religião relativista de auto-salvação e com forte influência do budismo e do xintoísmo.

O movimento se diz ecumênico. Seu atual líder é o conselheiro honorário da Liga das Novas Religiões do Japão e presidente honorário da Federação das Religiões Japonesas. Mas, apesar desse perfil ecumênico, acreditam, paradoxalmente, que só a PL possui o caminho para a verdadeira salvação: “Excluindo o ensinamento da PL, nenhum outro é capaz disso [...] A não ser o ensinamento peelista, não existe nenhum outro que possa fazer com precisão essa orientação individual”. As demais religiões foram ultrapassadas: “Ao observar as religiões tradicionais, sob vários aspectos, não posso concordar com absolutamente nada”.

Continuando, a PL baseia toda a sua crença em 21 preceitos. Seu lema é viver na “perfeita liberdade”, isto é, sem reprimendas de sentimentos ou expressão. Um dos objetivos do grupo é levar as pessoas ao caminho da felicidade mediante os ensinamentos dos fundadores e pela expressão do próprio “eu”, preparando-as, assim, para a paz mundial, objetivo primordial da seita.

Acreditam que tudo o que acontece na vida é obra divina, um desígnio de Deus, seja bom ou mau. Não se deve questionar, mas aceitar passivamente e, em seguida, criar uma solução “artística” em meio aos erros e dificuldades diários. Essa é a essência do primeiro preceito: “vida é arte”.

Afirmam, ainda, que as doenças e desventuras da vida surgem devido aos maus hábitos espirituais que cultivamos, tais como preguiça, raiva, egoísmo, preocupação, pois alegam que tudo na vida é reflexo de algo, “tudo é espelho”. Para atender a este mishirassê (“aviso divino”), precisamos acumular virtudes e corrigir tais vícios espirituais. Para isso, é preciso fazer missassaguê (“autodedicação”), que nada mais é do que a imposição de várias regras aos adeptos, desde doar dinheiro à instituição até limpar banheiros, arrumar o jardim do templo, etc. E tudo deve ser feito sempre com oyashikiri (“preces”).

A PL possui várias literaturas, mas seu principal livro se chama Instruções para a vida religiosa. São 21 instruções que falam de gratidão, espírito de reclamação, teimosia, preocupação, cobiça, sabedoria para utilizar os cinco sentidos, ensinos sobre como não magoar os outros, etc. Enfim, fala de coisas óbvias, já citadas pela Bíblia há milhares de anos.

A organização

A PL possui vários departamentos internos, como, por exemplo, os de senhoras, juventude, divulgação, entre outros. A divisão administrativa compreende as regiões às quais englobam distritos. Os distritos coordenam os templos, as sedes e os locais de expansão. Cada um desses setores é dirigido por um mestre regional ou distrital, ou mestre chefe de igreja.

O grupo obedece a uma hierarquia definida. No topo do comando, está o patriarca, que, além de ser o responsável pela instituição, é instrutor e líder máximo da seita. Depois, vêm os mestres e assistentes de mestres. Enquanto os primeiros se dedicam integralmente às atividades da instituição, os últimos, normalmente, permanecem em suas atividades profissionais normais.

O patriarca

É chamado de Oshieoyá-Samá (“Pai dos ensinamentos”). Nesta geração, os adeptos dizem que o patriarca está sendo representado por Takahito Miki, o terceiro fundador. Apesar de declararem que Takahito ocupa a posição de “um ser humano e não de Deus”, acreditam que ele está num estado que chamam de “estado uno a Deus”, considerado o único intermediador entre Deus e os homens.

A bem da verdade, na prática ele se transforma num semideus dentro do movimento, sendo considero, pelos adeptos, o centro da fé de todos eles. Quem entra numa sede da PL pode verificar facilmente que, na parede acima do altar, fica o Omitamá (altar sagrado), e, à direita, um retrato do patriarca, a quem os devotos prestam agradecimentos pelas graças alcançadas. O tratamento que dão ao patriarca ultrapassa a simples reverência dada a um líder. E isso fica muito claro pelos títulos que lhes são atribuídos: “Fonte da verdade”, “Centro da fé”, “Fundamento da PL”, “Digno de veneração”, “Alicerce espiritual”, “Salvador”, “Mediador”, “Aquele que se sacrifica pela humanidade”, etc. Pela semelhança aparente que esse último título possui com o do Messias (Is 53), nos deteremos em sua exposição.

Aquele que se sacrifica pela humanidade?

Um dos ensinamentos do grupo é que “Oshieoyá-Samá ora a Deus, suplicando a salvação de toda a humanidade, sacrificando-se misericordiosamente. Os atos sagrados, tais como: Mioshiê [‘orientação’], Oyashikiri [‘graça’] e Omigawari [‘intercessão’], concretizam-se mediante o sacrifício do corpo e da alma de Oshieoyá-Samá e mediante a virtude dos espíritos dos antecessores da PL. Portanto, por esses atos, nós, adeptos, aliviamo-nos dos sofrimentos, porque Oshieoyá-Samá se responsabiliza-se perante Deus por esses nossos sofrimentos”.

E explicam: “O motivo que faz que Omigawari seja atendido por Deus é porque o Oshieoyá-Samá arca com a responsabilidade perante Deus, durante o dia e a noite, sacrificando o seu corpo”.

Segundo a literatura peelista, “diariamente, no mundo inteiro, muitas pessoas estão sendo salvas por meio do Oyashíkiri e do Omigawari. Essas preces surgem no corpo de Oshieoyá-Samá como sofrimentos e vão-se acumulando gradativamente. Em uma cerimônia de agradecimento, Oshieoyá-Samá restitui todos os sofrimentos acumulados no seu corpo e faz o Shikiri [bênção] para poder retornar ao estado original de pureza física. Nesse momento, Oshieoyá-Samá agradece a Deus por ter podido substituir os adeptos em seus sofrimentos e transmitir os ensinamentos e, ao mesmo tempo, devolve a Deus todos esses sofrimentos físicos acumulados durante o mês e renova o Shikiri, no sentido de poder receber novamente os sofrimentos dos adeptos por mais um mês. Isso é o ato sagrado de receber a obra divina de Oshieoyá-Samá”.

Como observamos, Takahito Miki furta títulos e funções que só pertencem a Jesus Cristo.

Jesus é o nosso único salvador (At 4.12).

Jesus sofreu por nossos pecados e enfermidades (Is 53.4).

Jesus é o único que pode transmitir a vontade de Deus e perdoar pecados (Mt 9.6; Hb 1.1).

Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6).

Jesus Cristo deu provas de tudo isso.

Quanto ao patriarca da PL, já não podemos dizer o mesmo.

Idolatria, superstições e crendices

A PL não poupa esforços em atacar aquilo que considera superstições das outras religiões. Contudo, se existe uma religião cheia de crendices e superstições, esta, com certeza, é a PL.

Ao ingressar na seita, o adepto recebe um pacote de amuletos de vários modelos, altares, rezas e juramentos que precisam ter e praticar para adquirir proteção, tanto física como espiritual.

Somente para citarmos dois exemplos, vejamos como é flagrante o caráter fetichista da PL:

“O amuleto é exclusivamente individual, e o Shikiri [bênção] foi inserido de modo a proteger somente a quem o solicitou. Não terá valor para outra pessoa. E como é utilizável apenas para aquela pessoa, em caso de falecimento, deverá ser purificado mediante a incineração. Entretanto, se o adepto desejar, poderá solicitar reinserimento para algum parente próximo [...] Não se deve esquecer disso, principalmente em se tratando de ‘amuleto anelar’”.

Além desse “amuleto anular”, há o “tesouro da sorte”, outro amuleto distribuído no início do ano, dentro do qual há a seguinte oração: “Que o portador deste Tesouro da Sorte seja agraciado com a providencia divina do decorrer do ano”. Tal amuleto deve ser guardado na carteira do adepto.

Ainda sobre crendices, a PL possui um altar para as rezas chamado Omitamá. Os adeptos acreditam que, por intermédio desse altar, seus desejos e pedidos são ouvidos por Deus, que lhes abrirá o caminho da felicidade. Assim que ingresso no grupo, o seguidor da PL cultua um Omitamá, chamado Aramitama, dando início, dessa forma, à sua vida religiosa. Tal como os demais, esse altar também é sagrado. Existem cerimônias especiais para entronizá-lo (no lar, na loja ou na empresa) ou transferi-lo, em caso de mudanças. Para os peelistas, esse altar é a verdadeira imagem de Deus. Há vários tipos deles. Vejamos:

O Omitamá oficial que, uma vez introduzido, não pode ser trocado, a não ser em caso de mudanças. Por causa desse inconveniente, inventaram o Omitamá portátil, que pode ser transportado dentro do lar.

Os Omitamás A, B e C, considerados especiais. O tipo B só pode ser concedido depois que o kyoto (adepto que cultua o omitamá) já possui o tipo A. Sendo um pouco menor que o do tipo A, o tipo B é destinado a aberturas de filiais de empresas. O tipo C, por sua vez, é para carros, motocicletas, helicópteros, barcos. O seu objetivo é garantir a segurança do veículo.

Diante de tanto fetiche, perguntamos: “A PL é uma seita supersticiosa ou não?”.

Que o leitor tire as suas próprias conclusões.

Teologia inconsistente

O grupo não possui uma teologia definida. Seus ensinamentos são vagos e ambíguos. A seguir, exporemos alguns conceitos doutrinários vistos pela ótica peelista:

Sobre a vida após a morte

Apesar de acreditarem na existência dos espíritos, os adeptos da PL não possuem uma definição exata sobre a vida após a morte. Dizem: “As religiões tradicionais, que se proclamam como sendo as verdadeiras, asseguram a existência da vida post-mortem. Eu, porém, acho essa questão um tanto duvidosa”.

Trata-se de uma religião de auto-salvação, em que cada um se redime por meio de seus próprios esforços com a ajuda de seu fundador. Sua soteriologia é hedonista. Crêem que a pessoa, quando morrer, retorna ao além. Não há inferno ou punição, todos são salvos, não sendo levado em conta o que tenham feito aqui na terra, pois pressupõem que todos são filhos de Deus. Por isso, para eles, a salvação implica em ter uma vida livre de sofrimentos, mesmo quando falam em salvação “espiritual”.

É lógico que esse tipo de salvação é de origem humana. Nenhum ensinamento, prece ou obras poderá garantir a salvação da humanidade. Ressaltando que o homem possui uma alma que pode se perder eternamente, a Bíblia afirma que Jesus é o nosso único salvador (At 4.12). Somente Jesus foi o escolhido para nos salvar dos nossos pecados (Mt 1.21). Se alguém se coloca nessa posição, faz de si mesmo um anticristo. Somente alguém puro e sem pecados poderia tomar o lugar dos culpados (1Pe 3.18). Nenhum homem, por mais sábio ou abnegado que seja, poderá fazer isso, pois todos são pecadores e carecem igualmente da salvação oferecida por Jesus, e o patriarca da PL não é exceção (Rm 3.23).

A Bíblia Sagrada nos dá uma perspectiva muito mais clara da vida no além (Lc 16.19-31) e, para aqueles que seguem a Jesus, bastante positiva (Lc 23.43). Por outro lado, os adeptos da PL, que confiam em seu patriarca, não possuem nenhuma segurança após a morte, pois sua religião é imediatista, é para o aqui e o agora, regida pelo “bebamos e comamos que amanhã morreremos”. Quão diferente é a promessa de Jesus! Além de prover salvação em todos os sentidos nesta vida, promete uma nova vida junto a Cristo no céu (Jo 14.1).

Sobre Deus

A doutrina de Deus na PL, ora panteísta, ora deísta, é ambígua. Todavia, em algumas declarações expostas em sua literatura, o panteísmo da doutrina que prega fica totalmente descoberto: “Compreendemos que Deus é a ‘Fonte’, a ‘Força’ que rege o Universo [...] Vivemos, pois, como parte desse Universo e, portanto, como parte de Deus...”. “Na PL, ouvimos dizer que ‘Deus é tudo’. A sociedade, os fenômenos naturais do planeta, além de todo o mundo espacial juntos, denominamos de Deus”.

Seja qual for o deus adorado na PL, uma coisa é certa: ele não se preocupa com o ser humano, porque, seguindo a ótica deísta, afirmam: “Deus em si mesmo é completamente frio [...] Alheio às emoções humanas, Ele tão-só existe silenciosa e profundamente por toda a eternidade”.

O deus da PL se funde com a própria criação, por isso é um deus frio. Então, perguntamos: “Qual é a vantagem em seguir um deus assim?”. Muito embora saibamos que o verdadeiro Deus é transcendente à sua criação, também sabemos que isso não implica, de modo algum, que Ele esteja longe de nós, como afirma o deísmo. Segundo a Bíblia, o Deus verdadeiro se compadece de seu povo (Êx 3.7), e está presente em todos os momentos de nossa vida (Mt 28.20). Embora essa imanência seja tão forte, a ponto de o Senhor Deus vir morar dentro de nós (Jo 14.23), o Deus verdadeiro está fora da criação, não se confundindo com ela. Só Jesus veio nos revelar o verdadeiro Deus (Jo 17.3).

Sobre culto aos mortos

Esse culto é muito importante para a felicidade do adepto, que acredita que, ao morrer, os antepassados podem deixar para seus descendentes uma herança de desvirtudes que, como um tipo de maldição hereditária, alcançam os membros da família, só sendo tiradas quando se presta culto aos mortos, agradecendo e pedindo perdão. Por isso, ao acordar e ao deitar, o peelista precisa fazer uma prece contida no seu livro de oração, cuja recitação começa com as seguintes palavras: “Perante Mioyaookami [Deus] e os espíritos dos ancestrais de todas as gerações da família...”.

Existem até cultos oficiais para várias ocasiões. Aos antepassados, para lhes agradecer, lembrando o que fizeram, podendo até conversar com eles. Para tomar a decisão de seguir o caminho correto. Para acumular virtudes. E para pedir a proteção dos mortos em todas as nossas necessidades, aflições e/ou objetivos.

Isso já é muito. Mas eles vão além. No momento do culto, acreditam que podem transportar a alma da pessoa falecida para dentro do Omitamá. Quando do falecimento de algum membro da família, deve, principalmente, ser realizada a “cerimônia de transladação” da alma do extinto. O ritual serve para transladar o espírito da pessoa que faleceu para o Omitamá de kyoto, e deve ser efetuado dentro de 24 horas após a morte) Em outras palavras, podemos dizer que se trata de uma nova roupagem para o animismo.

Esses são os absurdos de uma religião que promete a liberdade ao ser humano, mas está presa ao pecado da superstição, da feitiçaria e da idolatria. A Bíblia condena esse tipo de atitude para com os mortos, e por diversas razões. Primeiro, porque os mortos não podem voltar ao mundo dos vivos (Lc 16.26) e não sabem nada que se passa por aqui (Ec 9.5). Segundo, porque invocar espíritos de mortos é feitiçaria, e isso é condenado pela Bíblia (Dt 18.11; Is 8.19,20).

A verdadeira liberdade com que Cristo nos libertou

Depois desta breve análise, podemos dizer, sem medo de errar, que a PL não tem capacidade de cumprir o que promete, ou, como diz Pedro, “prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção” (2Pe 2.19).

Creio que este rápido confronto entre as doutrinas peelistas e os ensinamentos cristãos foi suficiente para provar a superioridade dos ensinamentos de Jesus, os quais continuam atuais, pois suas palavras são “espírito e vida”, portanto, não morrem nem ficam obsoletos (Jo 6.63). Reafirmamos o seguinte: a doutrina de Cristo é a única capaz de levar o homem à verdadeira felicidade e salvação, livre de erros, superstições, crendices e idolatrias, tão presentes na PL.

É por isso que conclamamos, com amor, a todos os peelistas: abandonem essa religião enquanto é tempo e encontrem a perfeita liberdade em Cristo Jesus, porque “para a liberdade Cristo nos libertou” e “onde está o Espírito do Senhor aí há verdadeira liberdade” (2Co 3.17; Gl 5.1, respectivamente).


Notas de referência:

1 Instruções para a vida religiosa PL, p.186.

2 Boletim assistente de mestre, nº 8, 1983.

3 Boletim Assistente de mestre: ensinamentos gerais, p.6.

4 Manual de assistente de mestre, p.27-8.

5 Manual de assistente de mestre: ensinamentos gerais, sem página.

6 Boletim Assistente de mestre, nº 8, 1983.

7 Folheto: Vida é arte – em busca da paz.

8 Boletim Assistente, nº 30, março/abril, 1998, p.5.

9 Boletim Assistente de mestre, nº 10, 1983.

10 Livrete de orações da PL – prece da manhã – individual.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Culto a Deusa Mãe - Por Hélio de Souza - Matéria postada na ICP

“...todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios” (At 19.34)


“E m dado momento, abrem-se par em par as portas de cipreste do templo. As multidões que convergiam de todas as partes da Ásia Menor, da Galácia, da Capadócia, da Macedônia e da Acaia, tanto sãos como enfermos, aleijados com as suas muletas, cegos guiados por crianças, paralíticos carregados em padiolas, se comprimem entre as colunas fronteiras à fachada. Todos esperam o momento de erguer-se o véu da deusa.

“Um longo clangor de trombeta, um rápido estrurgir de tambores e, em seguida, um intervalo de silêncio. Uma nuvem de incenso paira na praça. Dentro e fora do templo os fiéis se prosternam retendo o fôlego. O véu de seda é lentamente retirado. Sobre o pedestal de mármore negro, cercado de misteriosos hieróglifos indecifráveis, ergue-se a deusa Diana de Éfeso, que Apolo enviou do céu à terra.

“No momento em que foi desvendado, um brado comovido se propagou do salão para o pórtico e do pórtico para a praça, onde milhares de fiéis estavam prostrados em terra.

- Viva a grande Diana dos efésios!

“Um êxtase de esperança e de temor dominou a multidão que se quedou de olhos fechados, lábios contraídos e frontes a se tocarem uma nas outras... Levantando-se então os fiéis seguiram de roldão para as portas do templo. Os cegos, os coxos e os enfermos avançavam como podiam, com os pés ou de rastos, em direção à deusa que não viam, amparando-se uns aos outros e gritando suas orações. Aqui e ali vozes delirantes soavam:

– Milagre! Milagre! O coxo está caminhando! O enfermo desceu da cama!

“A esses brados saía do templo um grupo de sacerdotes e, atravessando a multidão, eles reuniam as muletas jogadas fora, para pendurá-las como troféus nas paredes do templo, em homenagem à grande deusa Diana”.1

Com essas palavras, o escritor judeu-cristão polonês, Sholem Asch, descreveu o culto à deusa Diana, tão popular na região da Ásia Menor, nos primórdios da Era Cristã. Como podemos conferir, qualquer semelhança com os cultos modernos às chamadas “Nossas Senhoras” não é mera coincidência, mas perpetuação de uma milenar tradição de culto a deusas, hoje disfarçada com matiz cristã. E não estamos falando de uma pequena seita obscura, existente em algum povo atrasado em um país exótico, mas de uma religião que possui milhões de adeptos, com uma força de devoção que chega à beira da loucura: o “marianismo”.

E não é preciso ser teólogo para perceber isso. Qualquer conhecedor de História pode constatar. Em uma revista de circulação nacional foi publicada uma matéria com o título: “No princípio, eram as deusas”.

O texto se desenvolve da seguinte forma: “As deusas só foram destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só deus, masculino. Com a difusão do cristianismo, as antigas deusas são banidas do imaginário popular. No Ocidente, algumas acabaram associadas à Virgem Maria, mãe do Deus dos cristãos, outras se transformaram em santas... Nos primeiros séculos cristãos, Ísis passou a ser identificada com Maria”.

O historiador Will Durant em sua História da Civilização diz: “O povo adorava-a (Isis) com especial ternura e erguia-lhe imagens, consideravam-na Mãe de Deus; seus tonsurados sacerdotes exaltavam-na em sonoros cantos...e mostravam-na num estábulo, amamentando um bebê miraculosamente concebido...Os primitivos cristãos muitas vezes se curvavam diante das estátuas de Ísis com o pequeno Hórus ao seio, vendo nelas outra forma do velho e nobre mito pelo qual a mulher , criando todas as coisas, tornou-se por fim a Mãe de Deus (grifo do autor) 2”.

Status de deusa

O paganismo não se conformou em ficar sem suas deusas. Assumindo características culturais e étnicas de cada nação, o culto à deusa Maria foi se adaptando à devoção popular com uma versatilidade incrível. Desde suntuosos santuários até silhuetas em vidros e grãos de milho, inúmeras aparições no mundo inteiro dão status de deusa a estas supostas aparições, incorporando-as ao acervo popular de inúmeras nações.

No Brasil, a chamada “Senhora Aparecida” possui traços raciais negros e seu culto está muito ligado à cultura afro.

Seu santuário, na cidade de Aparecida, chega a receber 6,5 milhões de visitantes por ano. Em Portugal, a deusa Maria, conhecida como “Senhora de Fátima”, assume características raciais européias, bem como a “Senhora de Lourdes”, na França. Elas recebem, respectivamente, cerca de 4,2 milhões e 5,5 milhões de visitas por ano. Entre outras divindades nacionais, ainda podemos citar a “Senhora de Guadalupe”, no México, e a “Senhora da Estrela da Manhã”, no Japão.

Não é óbvio presumirmos que as antigas divindades tutelares reverenciadas no passado apenas mudaram de nome? Diana para os efésios, Nun para os ninivitas, Ishtar para os babilônios, Kali para os hindus e, assim, continuam sendo cultuadas por meio de um pseudocristianismo.

Além de divindades nacionais, o marianismo assume características regionais e funcionais, assenhoreando-se de cidades e regiões, assumindo diferentes nomes e funções. Assim, temos no Brasil a “Nossa Senhora do Monte Serrat”, “Nossa Senhora do Rosário”, “Nossa Senhora das Dores”, “Nossa Senhora das Graças” e “Nossa Senhora do Parto”, entre outras. Na verdade, muito do que as estatísticas chamam de cristãos não passam de grosseiros pagãos, aprisionados por superstições e servindo a falsos deuses.

Curiosa é a descrição da deusa Diana feita por R.N. Champlin. Esse renomado teólogo diz que a deusa Diana e a deusa Maria se confundem, o que torna difícil encontrar a diferença entre a “Diana dos efésios” e a “Maria dos efésios”. Em 431 d.C., a idolatria tornava a entrar pela porta de onde saíra: “Em Éfeso ela recebeu as mais altas honrarias. De acordo com uma inscrição existente no local, ela trazia estes títulos: Grande Mãe da Natureza, Patrocinadora dos Banquetes, Protetora dos Suplicantes, Governanta, Santíssima, Nossa Senhora, Rainha, a Grande, Primeira Líder, Ouvidora...”2 (grifo do autor).

A ascensão de Maria

Segundo o catolicismo, “finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo. A assunção da Virgem Maria é uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos”.3

Qualquer conhecedor das Escrituras fica aborrecido diante de tamanha distorção. A humilde camponesa de Belém, que singelamente aceitou sua missão de ser a mãe de Jesus, foi, ao longo dos séculos, transformada em uma divindade pagã.

Em toda a Bíblia, a figura de Maria não recebe qualquer posição especial com relação a Jesus ou ao plano de salvação:

• Jesus não a chamava de mãe, mas de mulher (Jo 4.4; 19.26);

• Aos que a definiram como sua mãe Ele fez questão de mostrar que seus familiares são os seus seguidores (Mt 12.46-50);

• Quando quiseram atribuir alguma honra a Maria pelo fato de ter dado à luz a Jesus, Ele fez questão de mostrar que há honra maior em obedecer a Deus (Lc 11.27-28);

• Nenhum dos apóstolos fez qualquer menção a ela, seja Paulo, Pedro, Tiago, João ou Judas.

Mas quando olhamos para o marianismo, não vemos apenas uma ascensão física, mas uma ascensão de importância que vem, através dos séculos, transformando a mãe de Jesus na figura central do Catolicismo e, conseqüentemente, da fé popular.

Como isso foi possível? Como a Igreja Católica pôde transformar uma figura que não recebeu nenhum destaque no Novo Testamento na peça mais importante de sua religião? Como essa igreja conseguiu, em nome do Cristianismo, desobedecer ao mandamento tão claro: “Não terás outros deuses diante de mim?” (Ex 20.3).

A tolerância, no entanto, é uma faca de dois gumes que, se exagerada, pode permitir que uma virgem se torne uma meretriz: “Mas tenho contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetisa. Com o seu ensino ela engana os meus servos, seduzindo-os a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos” (Ap 2.20).

Quando os verdadeiros crentes precisaram tomar uma atitude mais severa, eles se calaram e a conseqüência disso foi a forte idolatria que se camuflou com o título de cristianismo. Assim, com o passar dos anos Maria foi acumulando títulos, adquirindo mais prestígio do que a própria Trindade.

Além da conhecida designação de “Nossa Senhora”, ela recebeu outras nomeações, como Medianeira, Imaculada (sem pecado), Mãe dos Homens, Mãe da Igreja, Rainha dos Céus, Co-redentora etc. A força de seu culto supera qualquer outro movimento dentro do Catolicismo.

A mariolatria continua mais forte do que nunca

A devoção às deusas do catolicismo cresceu nas últimas décadas e continua crescendo. Por meio de abaixo-assinado na internet para pressionar o papa João Paulo II (matéria escrita antes de sua morte)a conceder a Maria de Nazaré o que os católicos chamam de “Quinto Dogma”, cinco milhões de assinaturas já foram levantadas. O “Quinto Dogma”, título oficial de co-redentora da humanidade, confere à santa a posição de quarta pessoa da Trindade.



O movimento que busca essa “conquista” chama-se Vox Populi Mariae Mediatrice e é liderado pelo “teólogo” Mark Miravalle, professor da Universidade Franciscana de Steubenville, no estado de Ohio, EUA. Pelo menos 500 bispos e 42 cardeais já assinaram o abaixo-assinado, conforme matéria publicada pela revista Tudo em setembro de 2001.

O papa  foi e é um dos grandes fomentadores desse culto idólatra. O lema de seu brasão de pontificado, Totus tuus, significa sua entrega total a Maria. Sua primeira viagem, 13 dias após a eleição, foi a um santuário mariano nas proximidades de Roma. Desde então, o papa não perde a oportunidade de reafirmar seu culto à mãe de Jesus e de lembrar que foi “Nossa Senhora de Fátima” quem o salvou do atentado a tiros que sofreu em 1981.

No século XX, foram registradas em todo o mundo cerca de 200 supostas aparições da virgem Maria. Os dogmas da imaculada conceição e da assunção de Maria, proclamados no século XIX, colaboraram para todo esse entusiasmo.

Lamentamos o fato de que a humilde Maria não tem nenhuma culpa em toda essa idolatria cometida em seu nome. Com certeza, as rezas, os cânticos, os sacrifícios e as promessas não vão para ela que, assim como os demais servos do Senhor, também está aguardando a ressurreição dos mortos.

A história do concílio de Éfeso

O concílio de Éfeso não instituiu a adoração a Maria, apenas sancionou-a. Até então se tratava de um sentimento religioso popular. Depois disso, passou a ser matéria teológica. Pior que uma prática idólatra permitida é uma prática idólatra teologicamente defendida. E foi justamente isso que esse concílio significou para o cristianismo: o passaporte de entrada da deusa Diana para dentro da Igreja Cristã.

Hoje, fala-se muito do concílio de Éfeso como “uma questão cristológica”. O que estava em jogo não era se Maria deveria ser chamada de mãe de Deus ou não, mas se o Filho nascido dela possuía apenas a natureza humana ou as duas naturezas: a humana e a divina. O resultado positivo foi o estabelecimento da natureza hipostática de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Mas a deturpação veio de carona. Todo o ambiente que cercou esse Concílio foi repleto de intrigas, corrupções, ódios e idolatria, mais especificamente idolatria mariana. O historiador Edward Gibbon referiu-se ao concílio de Éfeso como um “tumulto episcopal, que na distância de treze séculos assumiu o venerável aspecto de Terceiro Concílio Ecumênico”.4

Nestor, patriarca de Constantinopla, se recusava a conferir o título de “Mãe de Deus” a Maria. “Na Síria, a escola de Nestor tinha sido ensinada a rejeitar a confusão das duas naturezas, e suavemente distinguir a humanidade de seu mestre Cristo da divindade do Senhor Jesus. A bendita virgem era honrada como a mãe do Cristo, mas os seus ouvidos foram ofendidos com o irrefletido e recente título de Mãe de Deus, que tinha sido insensivelmente adotado desde a controvérsia ariana. Do púlpito de Constantinopla, um amigo do patriarca e depois o próprio patriarca, repetidamente pregou contra o uso, ou o abuso, de uma palavra desconhecida pelos apóstolos, não autorizada pela igreja, e que apenas tendia a alarmar os tímidos”, diz Gibbon (grifo do autor).

Cirilo, então bispo de Alexandria, acusou-o de heresia e tratou rapidamente de convencer Celestino, bispo de Roma, de seu ponto de vista. Para resolver a questão, foi então decidido um Concílio Universal, sediado na cidade de Éfeso, na Ásia Menor, que ficaria acessível tanto por mar quanto por terra, para ambas as partes conflitantes.

Cirilo usou todos os artifícios para persuadir o povo a tomar seu partido. Vejamos o que disse Gibbon a respeito: “O despótico primado da Ásia (Cirilo) dispôs prontamente de trinta a quarenta votos episcopais: uma multidão de camponeses e os escravos da Igreja foram derramados na cidade para sustentar com barulhos e clamores um argumento metafísico; e o povo zelosamente afirmou a honra da Virgem, de quem o corpo repousava dentro dos muros de Éfeso. O navio que havia transportado Cirilo de Alexandria foi carregado com as riquezas do Egito; e ele desembarcou um numeroso corpo de marinheiros, escravos e fanáticos, aliciados com cega obediência sob a bandeira de São Marcos e a mãe de Deus. Os pais e ainda os guardas do concílio estavam receosos devido àquele desfile esplendoroso de roupas guerreiras; os adversários de Cirilo e Maria foram insultados nas ruas ou destratados em suas casas; sua eloqüência e liberalidade fizeram um acréscimo diário ao número de seu aderentes...

“Impaciente com uma demora que ele estigmatizou como voluntária e culpável, Cirilo anunciou a abertura do Sínodo dezesseis dias após a Festa do Pentecoste. A sentença, maliciosamente escrita para o novo Judas (isto é, Nestor), foi afixada e proclamada nas ruas de Éfeso: os cansados prelados, assim que publicaram para a igreja com respeito à mãe de Deus, foram saudados como campeões, e sua vitória foi comemorada com luzes, cantos e tumultos noturnos.

“No quinto dia, o triunfo foi obscurecido pela chegada e indignação dos bispos orientais (do partido de Nestor). Em um cômodo da pensão, antes que ele tivesse limpado o pó de seus pés, João de Antioquia tinha dado audiência para Candidian, ministro imperial, que relatou seus infrutuosos esforços para impedir ou anular a violenta pressa dos egípcios. Com igual violência e rapidez, o Sínodo Oriental de cinqüenta bispos degradou Cirilo e Memnon de suas honras episcopais; condenou, em doze anátemas, o mais puro veneno da heresia apolinária; e descreveu o primado alexandrino (Cirilo) como um monstro, nascido e educado para a destruição da igreja.

“Pela vigilância de Memnon, as igrejas foram fechadas contra eles, e uma forte guarnição foi colocada na catedral. As tropas, sob o comando de Candidian, avançaram para o assalto; as sentinelas foram cercadas e mortas à espada, mas o lugar era inexpugnável; os sitiantes retiraram-se; sua retirada foi perseguida por um vigoroso grupo; eles perderam seus cavalos e muitos soldados foram perigosamente feridos com paus e pedras. Éfeso, a cidade da virgem, foi profanada com ódio e clamor, com sedição e sangue; o sínodo rival lançou maldições e excomunhões de sua máquina espiritual; e a corte de Teodósio ficou perplexa pelas narrativas diferentes e contraditórias dos partidos da Síria e do Egito. Durante um período tumultuado de três meses o imperador tentou todos os meios, exceto o mais eficaz, isto é, a indiferença e o desprezo, para reconciliar esta disputa teológica. Ele tentou remover ou intimar os líderes por uma sentença comum de absolvição ou de condenação; ele investiu seus representantes em Éfeso com amplos poderes e força militar; ele escolheu de ambos os partidos oito deputados para uma suave e livre conferência nas vizinhanças da capital, longe do contagioso frenesi popular.

“Mas os orientais se recusaram a ceder e os católicos, orgulhosos de seu número e de seus aliados latinos, rejeitaram todos os termos de união e tolerância. A paciência do manso imperador Teodósio foi provocada, e ele dissolveu, irado, este tumulto episcopal, que na distância de treze séculos assumiu o venerável aspecto de Terceiro Concílio Ecumênico. ‘Deus é minha testemunha’, disse o piedoso príncipe, ‘que eu não sou o autor desta confusão. Sua providência discernirá e punirá o culpado. Voltem para suas províncias, e possam suas virtudes privadas reparar o erro e o escândalo deste encontro’.

“(...) os abades Dalmácio e Êutico tinham devotado seu zelo à causa de Cirilo, o adorador de Maria, e à unidade de Cristo. Desde o primeiro momento de sua vida monástica eles nunca tinham se misturado com o mundo ou pisado no chão profano da cidade. Mas neste terrível momento de perigo para a igreja, seus votos foram superarados por um mais sublime e indispensável dever. À frente de uma ordem de eremitas e monges, carregando archotes em suas mãos e cantando hinos à mãe de Deus, eles foram de seus mosteiros ao palácio do imperador”5

Longe de ser uma disputa teológica, na qual a Palavra de Deus era o padrão da verdade, essa foi uma guerra política, ocasião em que Maria foi proclamada a “mãe de Deus”, iniciando uma ascensão que fez dela a deusa que é hoje.

Nem todas as sutilezas teológicas produzidas pelo catolicismo terão poder de inocentar os milhões apri-sionados na idolatria mariana. Nenhum longo tratado, nenhuma citação da patrística e nenhuma alegação da tradição serão suficientes para apagar dessas almas manchadas o envolvimento com essas entidades que se intitulam “Senhoras”. São mais de quinze séculos de práticas pagãs, justificadas por argumentos ilegítimos, tentando tornar aceitável o inaceitável.

Mas o fundamento de Deus permanece. “Não terás outros deuses diante de mim”, diz o Senhor. E muito menos deusas!

Bibliografia:

“O Novo Testamento interpretado versículo por versículo”. R.N. Champlin, Candeia.

“O Apóstolo”. Sholem Asch. Companhia Editora Nacional.

“Virgem Maria”. Aníbal Pereira dos Reis. Edições Caminho de Damasco.

Decline and Fall of Roman Empire. Edward Gibbon. Encyclopaedia Britannica. INC. Vol II

Revista “Tudo”. Setembro/2001

A História da Civilização – Nossa Herança Oritental. Will Durant, Ed. Record. Vol I.

Notas:

1 O Apóstolo. Sholem Asch, pp.386-387.

2 Revista Super ieressante de agosto 1988. número 8, ano 2.

2 O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. R.N. Champlin. Candeia, p .431.

3 CIC, p. 273, item 966.

4 Declínio e Queda do Império Romano. Vol II.

5 Decline and Fall of Roman Empire. Edward Gibbon. Encyclopaedia Britannica. INC. Vol II, pp. 140-142.