Gastança descoberta pela Arquidiocese afeta fonte de renda da instituição. A crise na Igreja do Rio ganhou novo capítulo: o novo ecônomo da Arquidiocese, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, fez ontem, em entrevista a O DIA, série de críticas ao seu antecessor, o padre Edvino Steckel. Segundo o religioso, em abril Edvino gastou boa parte dos R$ 5,150 milhões que a prefeitura depositara, em 31 de março, na conta da Arquidiocese como pagamento de uma ação judicial.
Apenas R$ 2 milhões ficaram no caixa.
Responsável pela administração dos bens da Arquidiocese, monsenhor Abílio disse que o dinheiro foi mal-empregado na compra de bens desnecessários e no pagamento de dívidas que ele desconhecia. “O dinheiro sumiu”, afirmou.
A verba seria usada na reforma de um prédio no Centro cujo aluguel das salas é a principal fonte de renda da Igreja do Rio.
Semana passada, padre Edvino foi obrigado a renunciar ao cargo de ecônomo depois que um jornal carioca revelou a compra, pela Arquidiocese, de um apartamento de luxo que serviria de residência no Rio para Dom Eusébio Scheid, arcebispo emérito (aposentado). Dom Eusébio foi o responsável pela nomeação de Edvino para o cargo, no ano passado. O novo arcebispo, Dom Orani João Tempesta, desconhecia a compra do imóvel.
Monsenhor Abílio anunciou também a recontratação da maior parte dos 67 funcionários demitidos na gestão de D. Eusébio e a volta, para a sede da Arquidiocese, das comissões pastorais que foram despejadas — entre elas, a dos refugiados, a de favelas, a do trabalho e a do menor. Segundo ele, o apartamento comprado em dezembro para D. Eusébio por R$ 2,2 milhões deverá ser vendido. O problema é que o interior do imóvel foi destruído para uma reforma inacabada.
“Hoje, o apartamento vale muito menos”, lamentou.
As mudanças implementadas por monsenhor Abílio incluem o fim de algumas marcas da gestão de padre Edvino, um homem de 42 anos que não esconde hábitos sofisticados e apreço pelo luxo.
Ex-vigário episcopal para a administração dos bens da Arquidiocese, monsenhor Abílio levou um susto ao voltar à antiga sala, então ocupada por Edvino. O local tinha sido reformado e ganhou um revestimento à prova de som que inclui portas de madeira maciça com 5 cm de espessura.
A sala ganhou teto de gesso, nova iluminação e móveis arrojados e caros. Foram comprados dois sofás e duas poltronas da loja Forma, de Ipanema. O jornal apurou que os sofás, de couro, com enchimento de penas de ganso, custam R$ 21.300 e R$ 17.200. O preço de cada uma das poltronas é R$ 6.800. Monsenhor Abílio preferiu usar sua antiga mesa e dispensou uma nova, comprada por Edvino. Levou também para a sala imagens de santos e de Jesus Cristo. “Não havia imagens aqui”, disse.
O novo ecônomo também determinou a devolução, por Edvino, do carro importado que ele usava, um Jetta. Um modelo novo custa R$ 85.674. “A Igreja não é feita de anjos, mas de homens”, lamentou o monsenhor. Padre Edvino não foi encontrado pela reportagem.
Missas não terão mais anúncios de cartão
Monsenhor Abílio também decidiu que os roteiros de missas não vão mais publicar anúncios do cartão de crédito criado na gestão de Dom Eusébio. Segundo ele, o contrato de publicação vencerá em setembro e não será renovado.
Lançado em dezembro de 2006, o cartão foi anunciado como uma forma de arrecadar recursos para obras sociais da Igreja. O cartão, porém, não é vinculado à Arquidiocese, mas à Associação de Solidariedade Justiça e Paz (ASJP), entidade fundada em junho de 2006 por Dom Eusébio e padre Edvino.
Seu estatuto não previa o apoio específico a projetos da Arquidiocese. Mesmo assim, a sede da entidade ficava na própria Arquidiocese. A ASJP lançou também um fundo de investimento.
Em setembro de 2008, o jornal revelou que o estatuto da ASJP previa que Dom Eusébio e padre Edvino seriam, respectivamente, presidente e diretor-geral vitalícios da entidade.
Apreço pelo luxo, por vinhos e boas roupas Carioca, Padre Edvino Alexandre Steckel, 42 anos, teve uma carreira meteórica ao lado de Dom Eusébio.
Doutor em História Eclesiástica, passou a ser visto como o homem que modernizaria a administração da Igreja do Rio. Chegou a encomendar à Fundação Getúlio Vargas (FGV) uma proposta para melhorar a gestão da Arquidiocese. Edvino mora em um apartamento na Lagoa onde recebia muitos políticos: há quatro anos, organizou a ida de 19 vereadores a Roma.
Já foi homenageado pela Assembleia Legislativa e pela Câmara Municipal. Apreciador de vinhos, costumava encomendar camisas ao alfaiate que faz os fardões da Academia Brasileira de Letras.
Com as mudanças, auxiliares de Edvino foram afastados e ele também perdeu seu cargo de direção na Rádio Catedral.
POR DENTRO DO COFRE
ESTUDO DA FGV
Monsenhor Abílio disse que quer conhecer a proposta de modernização da administração da Arquidiocese encomendado à FGV, mas afirma discordar da ideia de se administrar a Igreja como uma empresa.
IGREJA NÃO É EMPRESA
“Isso aqui não é empresa, não produz nada. É uma entidade para divulgar o Evangelho e ajudar os pobres”, afirmou o ecônomo.
VOLTAR ATRÁS
De acordo com monsenhor Abílio, a intenção das reformas era boa. “Mas eles se perderam, temos que voltar atrás. Isso tudo enxovalha todo um trabalho que se faz em favor dos humildes, dos pobres.”
FONTES DE RECEITA
Ele diz que a Arquidiocese vive, principalmente, de aluguéis e dos dízimos, doações e esmolas de seus fiéis.
FUNCIONÁRIOS
Segundo o ecônomo, a Arquidiocese tem pouco mais de 200 funcionários e uma folha de pagamento de R$ 400 mil.
Font: Dia
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